sexta-feira, 28 de junho de 2013

Porquê?

Agora que já conhece os dois tipos de condicionamento, parece-lhe minimamente razoável e prudente tratar um cão com comportamentos agressivos através de esticões na trela (ou afins)? Parece-lhe minimamente justificável que um profissional não saiba que, ao estar a usar meios aversivos para castigar um comportamento (condicionamento operante) está, ao mesmo tempo, a criar associações entre toda essa aversividade e todos os estímulos perante os quais essa aversividade surge com frequência? Como é que acha que um cão vai processar a seguinte informação: "sempre que não estou diante de outros cães, não recebo esticões na trela; mas recebo esticões na trela sempre que estou diante de outros cães"; como acha que o seu cão vai começar ou continuar a julgar os outros cães se estes se tornam, cada vez mais, indicadores de coisas más?

"Ah, mas o meu cão deixou de reagir agressivamente aos outros cães depois do tratamento aversiso."

Claro: mas pergunte ao seu cão se ele superou o medo que tem dos outros cães. Isto é, coloque-o perto de outros cães e veja se ele se comporta como os outros cães. Claro que não: vai dar-lhe dezenas de sinais a dizer que não está confortável naquela situação. Mas ao dono só lhe interessa que o comportamento agressivo tenha parado. E ao treinador também. Os sinais de desconforto e apaziguamento, esses ninguém os vê. O dono, porque não os conhece nem tem obrigação disso. O treinador, porque não os reconhece, pois o seu major é na disciplina "esticões na trela". 
Depois admiram-se quando o cão, passado uns tempos, volta a desempenhar comportamentos agressivos. O treinador escuda-se facilmente: "pois, a culpa é do dono, que transmite ao cão essa agressividade; tanto é que, depois de um tempo comigo, ele abandonou o comportamento agressivo...". 
A pergunta a fazer é: "e o que é que o senhor treinador fez para que as causas do comportamento agressivo também fossem apagadas?" Se as causas não desaparecem, os efeitos mais tarde ou mais cedo voltarão. 

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