quarta-feira, 3 de julho de 2013

Podes ir!

Ó, mãe, já posso ir à água?
Não, filho, ainda estás a fazer a digestão.
(...)
E agora, mãe, e agora?
Ainda não...
(...)
Mãe, e ag...
Podes ir!


Lembra-se de quando era criança e ouvia as palavras mágicas "Podes ir!"? Caso não se lembre, tente observar a alegria de uma criança quando ouve estas palavras. Estou a falar a sério: vá até uma aí por volta da hora de almoço e veja todo este processo desenrolar-se. É de uma utilidade extrema para a educação do seu cão.

Mas o importante é aquilo que vem a seguir:

Posso?
Podes.
YEEAAAAHHHHHH!
(...)
(durante o período do banho, dentro da cabeça da criança): "hm, a água está mesmo boa... hm"
(...)
Ó, Miguel, anda cá.
Oh.... que seca....
Deixa cá ver as tuas mãos... ok, não estão roxas... Podes ir!
YEEAAAAAHHHH!

Como é óbvio, o período em que a criança está na água é bastante agradável e tem o relativo poder de atractividade para a criança. Mas qual é que o leitor acha que é o momento em que a alegria da criança atinge o seu mais alto ponto? 
Façamos um gráfico.












É certo que o tempo que se passa dentro de água é um tempo agradável, e é esse o objectivo. Mas o momento em que a criança sente alegria mais intensa é o momento em que a mãe diz que ele pode ir ou voltar para a água, momento esse seguindo de uma intensa e eufórica corrida para o mar.

Para os cães, sobretudo para cachorros e para cães bem socializados, poucas coisas são mais valiosas do que um bom período de brincadeiras com outros cães. Mas, como em tudo na vida, mesmo esses momentos não são de duração perpétua e permanente. A alegria de correr com os companheiros, sem trela, é enorme; mas essa alegria tende a ir diminuindo à medida que o tempo vai passando. Quando lidamos com um cão adolescente, isto é dolorosamente explícito: depois de cinco minutos de brincadeiras, os arbustos ao lado, ou o outro lado do parque começa a ser mais atraente do que manter a brincadeira que até estava boa, mas já tinha dado o que tinha para dar de melhor.
Cabe ao dono aproveitar a "lei dos picos de alegria" (inventada de fresco) para renovar o interesse do seu cão nas brincadeiras com outros cães (aqui perto de nós, ao invés das caprichosas tentações do outro lado do parque, já longe do nosso controlo). Mas, sobretudo, cabe ao dono fazer uso dessa lei para fortalecer a chamada do seu cão.
A que é que um cão associa, normalmente, as chamadas dos seus donos? Ao fim da brincadeira, à colocação da trela, à altura de ir embora. Ao contrário, se, de cada vez que chamarmos o nosso cão, voltamos a deixá-lo ir brincar, não só o nosso cão não aprende a associar a nossa chamada ao "fun's over", como, sobretudo, as nossas palavrinhas "podes ir" ganham uma força incomparável, pois associam-se aos picos de alegria do nosso cão. Ao fim de pouco tempo de prática, a associação entre "aqui" e "podes ir" torna-se directa. "Aqui" deixa de querer dizer "anda cá, que vamos embora". Através das leis do condicionamento clássico, cada chamada nossa vai ficando cada vez mais associada a momentos de alegria intensa do nosso cão. E não existe forma mais potente de fortalecer a chamada do nosso cão. 



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