segunda-feira, 15 de julho de 2013

Imagine... novamente

Imagine o caro leitor que tem um cão que apresenta um problema com alguma gravidade: sempre que ele está a comer e alguém se aproxime dele e do seu prato, ele rosna. 
Consciente de que este cenário pode desembocar em algo desagradável ou desastroso no futuro, resolve contactar um profissional para tratar do caso.
Agora imagine que esse profissional (imaginário, claro) confirma as suas suspeitas e lhe diz que não é normal nem desejável que um cão rosne ao seu dono. Imagine ainda que este treinador fictício lhe diz que isso é sinal que o seu cão não o respeita enquanto dono. Imagine.
Depois, em ordem a demonstrar o que é um comportamento desejável de um cão e, possivelmente, demonstrar-lhe qual a postura que deve ter perante o seu cão e perante a situação, este treinador imaginário leva-o até aos seus aposentos, e decide mostra-lhe o ritual da hora de almoço dos seus vários cães. Imagine o leitor que o seu treinador escolhe aquele que é, confessadamente, o seu melhor exemplar de comportamento e de respeito ao dono. Imagine que ele encosta a cabeça ao prato enquanto este exemplar modelo canino toma a sua refeição. Agora imagine que este cão rosna ao seu dono, isto é, ao treinador que acabou de, imaginariamente, contratar e seguir. O cão rosna ao seu dono; este, do alto dos seus conhecimentos e competências profissionais, exerce um correctivo toque no focinho do seu modelo exemplar. No entanto, o cão volta a rosnar e a mostrar os dentes. O dono desse cão (o profissional qualificado) volta a corrigir o comportamento, desta vez apenas com uma vocalização e um gesto manual sem toque. O cão vira o focinho, de forma a evitar contacto visual, e... como estamos a falar de um cenário imaginário, a cena termina ali sem se saber quantas vezes mais houve rosnares e correctivos. 

Quais seriam as conclusões que o estimado e crítico leitor faria das credenciais deste profissional?

a. Ficaria admiradíssimo e rendido perante a capacidade deste treinador em corrigir um mau comportamento apenas com um toque no focinho e uma vocalização? E, como tal, pensaria: "uau, é mesmo este sujeito que quero que trate dos meus cães".

b. chegaria à conclusão de que, quando um cão rosna ao seu próprio dono, isso significa que algo de profundamente errado se passa nessa relação (aliás, havia sido o próprio treinador que lhe havia dito isso em relação a si e à sua relação com o seu cão). E, como tal, pensaria que talvez fosse preferível ter uma segunda opinião (i) de alguém que fosse mais coerente entre aquilo que diz acerca dos seus clientes e aquilo que ele próprio faz com os seus cães; (ii) de alguém que, tendo tido ou não o mesmo problema com algum dos seus cães, já o tivesse resolvido há muito, afinal de contas, tratar-se-ia de um profissional; (iii) estipulasse um plano de tratamento que fizesse com que o cão deixasse, pura e simplesmente, de rosnar ou mostrar qualquer tipo de sinais de desconforto, e não, simplesmente, um plano de tratamento que lhe dissesse de que forma é que deveria corrigir o seu cão sempre que ele lhe rosnasse...


Qual seria a opção escolhida pelo estimado leitor, qual seria?

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